sábado, 14 de fevereiro de 2009

O SIMULACRO




Aprendam o simulacro daquilo
que me retém no meu vulto
de animal excessivo de
vegetação mais densa:

um pião pôs-se a rodar no mês de Maio
donde nasceram os lábios e várias forças
que frequentaram a terra, como a música de
concertina, o ventre, o touro.

Fez-se uma roda no mês de Maio, com lotaria
com tudo a sumir-se com tudo a unir-se
velhos a parecerem outra coisa mais leve
peixes converteram-se à fala prédios
ocuparam um lugar acrescentaram-se
vegetações por dentro e por fora.

Foi o simulacro. O touro riu-se.
Animais práticos bem falantes
roçaram pelo meu pêlo. Vários voavam
para o centro vários espojavam-se no ar
houve quem sorrisse para dentro de uma
vasilha quem se forrasse de cobra
quem se cobrisse de folhas no sexo e o touro,
no mês astrológico de Maio, a rir-se.



Luiza Neto Jorge

retirado do livro cuja capa se reproduz ao alto.
Domingos Sidónio fotografado por Al Berto.






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